Dezembro chega com uma promessa de celebração, descanso e renovação. No entanto, para muitas pessoas, este período se transforma em um verdadeiro campo minado emocional. A sensação de que o ano está acabando, a pressão por resultados e o acúmulo de obrigações fazem com que a ansiedade de fim de ano se torne um fenômeno real e, muitas vezes, incapacitante. Mas por que o final do ano age como um gatilho tão poderoso para a saúde mental?
O cenário de sobrecarga: por que dezembro aumenta a ansiedade
O final do ano é uma tempestade perfeita de fatores externos e internos que sobrecarregam o sistema nervoso:
- Balanço de Metas e Cobrança Interna: A virada do ano traz a inevitável reflexão sobre o que foi ou não cumprido. A cobrança interna (“eu deveria ter rendido mais este ano”) gera um estresse autoimposto que alimenta a ansiedade.
- Demandas Acumuladas: Obras, projetos profissionais que precisam ser finalizados, férias escolares, e a organização de festas e obrigações familiares se acumulam, criando uma agenda irrealista.
- Questões Financeiras: O período de festas e presentes, somado a possíveis dívidas, adiciona uma camada de preocupação que é um potente gatilho para a ansiedade.
- Fechamento de Ciclos: Sentir-se apreensivo em momentos de mudança e fechamento de ciclo é esperado. No entanto, se a pessoa já tem predisposição à ansiedade, esse cenário funciona como um amplificador.
Nessa combinação de fatores, sintomas como aperto no peito, preocupação constante, dificuldade de relaxar, sensação de não dar conta de tudo e alterações do sono ficam mais intensos.
O alerta global: a ansiedade em números
A ansiedade é o transtorno mental mais prevalente no mundo, e os dados reforçam a seriedade do tema:
Pelos dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos de ansiedade são hoje o grupo de transtornos mentais mais frequente no mundo. A OMS estima que cerca de 4 a 4,4% da população global viva com algum transtorno de ansiedade, o que corresponde a mais de 300 milhões de pessoas, e que esses quadros estão entre as principais causas de sofrimento e incapacidade relacionada à saúde mental.
No Brasil, a situação é ainda mais crítica:
Estudos epidemiológicos baseados nas estatísticas da OMS apontam que o país tem a maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo, em torno de 9,3% da população – algo acima de 18 milhões de pessoas. Há estimativas de prevalência próxima de 20% na cidade de São Paulo, o que reforça a ideia de que vivemos em um dos contextos urbanos mais ansiosos do planeta.
Reconhecendo o sinal de alerta: quando a ansiedade é doença
É importante ressaltar que nem toda ansiedade é doença. Sentir-se apreensivo no fim do ano é esperado. O sinal de alerta é quando essa ansiedade passa a paralisar ou prejudicar de forma importante o funcionamento da pessoa.
Do ponto de vista clínico, a OMS descreve os transtornos de ansiedade como quadros marcados por medo e preocupação excessivos, desproporcionais à situação, acompanhados de sintomas físicos (palpitações, sudorese, tremores, sensação de falta de ar) e por um grau de sofrimento/comprometimento que interfere na vida cotidiana – trabalho, estudo, relações familiares e sociais.
O caminho para um fim de ano mais leve: estratégias de resiliência
A boa notícia é que é possível construir resiliência para enfrentar esse período. Não se trata de fraqueza individual, mas de uma combinação de fatores externos e internos que podem ser gerenciados.
Estratégias práticas para o fim de ano:
- Priorize o sono: Tente manter uma rotina mínima de sono mais regular. O sono é crucial para a regulação do humor e da ansiedade.
- Limite as telas: Reduza o excesso de telas, especialmente à noite, para não prejudicar a qualidade do seu descanso.
- Mova-se: Inclua algum nível de atividade física (mesmo que seja uma caminhada curta, que já tem evidência de benefício sobre sintomas de ansiedade e melhora da qualidade do sono).
- Seja realista: Organize a agenda de forma mais realista, com menos perfeccionismo. Aceite que nem todas as metas serão cumpridas exatamente como foram desenhadas em janeiro.
- Busque apoio social: O apoio familiar e da rede próxima faz muita diferença. Converse com pessoas de confiança, peça ajuda prática quando possível e tenha espaços de convivência menos centrados em cobrança e mais em vínculo.
A importância da avaliação psiquiátrica
Quando a ansiedade começa a impedir a pessoa de trabalhar, estudar, dormir ou manter relações, é o momento de buscar ajuda profissional.
É fundamental reforçar que o tratamento não se resume à medicação. O cuidado em saúde mental começa pela escuta. Entender a história daquela pessoa, o contexto em que ela vive, quais pressões está sofrendo e quais recursos de apoio ela tem. A medicação tem um papel fundamental em muitos casos (especialmente nos quadros moderados e graves), mas ela entra dentro de um plano mais amplo, que inclui psicoterapia, ajustes de rotina, fortalecimento de vínculos e estratégias de manejo do estresse.
A boa notícia é que, de modo geral, os transtornos de ansiedade respondem bem a tratamento, combinando psicoterapia, intervenções no estilo de vida e, quando indicado, medicação adequada.
Se a ansiedade de fim de ano está roubando sua paz, não hesite em buscar um psiquiatra online ou presencial. O primeiro passo para um ano novo mais leve é cuidar de você agora.



